Gurgel fez história no Brasil

Linha de montagem tipo carrossel, uma adaptação da linha de montagem original da Ford

Entrou para a história do automóvel no Brasil o desfile do dia 7 de setembro de 1987 de Brasília, simbolizando naquela ocasião a data de independência tecnológica da indústria automobilística local. Celebrava-se merecidamente a passagem e a apresentação ao público presente dos protótipos do que viria a ser a próxima tentativa de um carro 100% brasileiro, até mesmo de conjunto motriz; a única, no entanto, que vivenciou o martírio de uma efêmera realidade (Texto original do Blog BIGORNIA)

Cegonha levando lote de BR-800, em 1988

É bem provável que o BR-800 tenha finalmente mostrado a verdadeira razão que justificava a existência da Gurgel, mesmo após uma vida inteira dedicada à produção de veículos utilitários e fora-de-estrada. No entanto, o mais “teimoso” dos sonhos de João Augusto Conrado do Amaral Gurgel (1926-2008) era produzir o “carro popular” ─ trocando em miúdos, um veículo compacto, econômico e acessível a grande parte da população.

BR-800 custava US$ 7 mil

Tentar competir em um dos segmentos principais dos quatro grandes fabricantes instalados no Brasil seria inevitavelmente entendido como uma afronta ao status quo da ausência de concorrência. A eliminação desse mercado que estava muito distante de ser liberal, através de “forças ocultas”, seria inevitável.

A breve existência do BR-800 (e também do Supermini, sua variação um pouco mais refinada) foi o último suspiro de uma visão de mundo cabia um fabricante de automóveis totalmente brasileiro que pudesse alavancar sua produção de milhares para milhões. De qualquer forma, tão curioso quanto o próprio carrinho, era a maneira bastante peculiar de como saía da fábrica.

Fábrica ficava em Rio Claro, no interior de São Paulo

Muitas das ideias que fervilhavam na mente geniosa de Gurgel transcendiam os automóveis e algumas delas se materializavam na forma de processos de fabricação e também renderam algumas patentes. A mais importante delas era o Plasteel, uma estrutura composta com uma armação de tubos de aço de seção quadrada coberta por camadas de fibra de vidro, introduzida originalmente em uma variação aperfeiçoada do Ipanema, o primeiro modelo da marca. Com eficácia garantida até mesmo pelas forças armadas, o Plasteel viria a partir de então compor a carroceria de toda a linha Gurgel que viria a surgir.

Interior da fábrica, que marcou época no Brasil

Para a produção do BR-800, Gurgel desenvolveu um curioso sistema de linha de montagem circular, se assemelhando a um carrossel, tendo como maior preocupação a racionalização de espaço e tempo de produção. Denominado de Rotamaq, o sistema contemplava os estágios finais da produção, como a aplicação dos componentes mecânicos e de partes do acabamento. As seis plataformas incluídas eram inteiramente ajustáveis de acordo com a posição dos operários, sendo que eram não só ergonomicamente corretos como também proporcionavam uma visão global de toda a montagem dos carros, consequentemente tornando os operários capacitados para eventuais remanejamentos.

Quem teve Gurgel gostava da economia do carrinho

LINHA DO TEMPO

✅Recordar é viver: linha de montagem do Gurgel, o genuinamente nacional, em 1975 foi inaugurada

✅Fábrica ficava em Rio Claro, São Paulo. Adotava uma linha de montagem tipo carrossel, uma adaptação da linha de montagem criada por Henry FORD

✅Em 1977, a Gurgel exportava 25% de sua produção e sua linha de Veiculos chegou a ser exibida no Salão de Genebra, na Suíça, com grande sucesso

✅ Em 1980 Joao Gurgel do Amaral iniciou planos para implantar linha de montagem de elétricos e em 1981 lançou o Itaipu E 150, vendido apenas para estatais e o E 400 uma minivan que demorava 10 horas para ser recarregada e tinha baixa autonomia. Detalhe: estudos finais de seu elétrico já em 1973!!!

✅Em 1984 lançou o SUV CARAJÁS

✅Depois, em 1987 lançou protótipo do 280 M, carro compacto

✅Em 1988, lançou o BR-800 carro compacto que custava US$ 7 mil, 30% a menos que os carros compactos de outras marcas e que tinha IPI menos que os outros (5%). Os outros pagavam 25% ou mais.

✅Em 1991, 5 mil BR-800 rodavam pelo Brasil

✅Com o governo Collor, liberação de IMPORTADOS , Gurgel entrou em decadência

✅Em 1992 dívidas grandes começaram a inviabilizar a marca

✅Em 1994, foi a falência

✅Em 25 anos produziu 40 mil carros

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